A história em baixo das árvores é um dos nossos costumes,
nossa cultura é preservada. O toré nosso ritual sagrado que nos ajuda a lutar
com garra. A tradição de chupar manga, chupar côco catolé, chupar maracujá de
vaqueiro, armar quixó, armar arapuca buscar lenha nos matos, rezar terços nas
casas, fazer artesanatos, visitar pessoas doentes, e ajudar os próprios
vizinhos. Além das diversões de jogos de bola; pesquisamos na aldeia e
visitando o museu indígena comunitário assim conhecemos o que de bom ainda
temos a aprender.
O museu comunitário da comunidade Indígena Kanindé de
Aratuba, serve como uma biblioteca onde nossos alunos fazem pesquisas e ficam
conhecendo a história do povo e sua origem. No museu temos caças que ainda
existe na nossa comunidade peças de artesanato que são feitas por um grupo de
índios kanindé, que trabalham com madeira, fotos
e jornais.
O Museu
Indígena dos Kanindé foi nossa primeira organização educacional e cultural,
aberto ao povo da Aldeia Fernandes em 1996.
depois, vieram a Associação Indígena Kanindé de Aratuba (AIKA) e o
movimento por uma educação escolar diferenciada, que se iniciou em 1999..
Apenas em 2005 tivemos a nossa escola indígena construída. Com o acirramento da
nossa luta, principalmente pela terra, surgiu a AIKA, em 1998. Ao longo dos
anos, organizados nessa entidade, viemos desenvolvendo vários projetos voltados
para o fortalecimento da cultura, da educação e da história do nosso povo, em
parceria com os trabalhos desenvolvidos na escola indígena e no Museu dos
Kanindé.
Aqui
é a experiência de nossa comunidade. Tem gato maracajá, camaleão, peba,
mão-de-onça, tejo, pé-de-veado, nosso artesanato em madeira de imburana. Aqui é
um fuso da minha tia, couro de jirita, coruja, inxuí de abelha que dá mel. A gente derruba na mata e
come o mel. Bolsa de palha de carnaúba, o casco de um tatu. Aqui as nossas
vestes, que nós usa nos ritual. Vamos fazer uma representação, que o povo gosta
sempre de chamar a gente, a sociedade... também na escola com as crianças”. Em
1995, nós fomos numa reunião lá no Maracanaú, eu e meu irmão. Tá bem aí a
história, foi a primeira história nossa, tá bem aqui nesse retrato. Era uma
reunião indígena, passamos três dias lá. Quando nós cheguemo aqui aí nós
trouxemos a história, quem era nós, nós ouvimos a história dos outros e se
lembramos da nossa, que quando nós era novo nossos pais contava. Nós ganhava os
matos, matando passarinho, comendo o figo dele, comendo ele cru, a gente
chegava tarde em casa, aí ele dizia “o que vocês estavam fazendo, vocês são
índios mesmo!” (...) Eu me lembro que meu avô tinha medo de falar na história
indígena porque dizia que o branco matava o índio, minha mãe e meu pai passaram
isso pra mim. Até agora o meu pai, já com 80 anos, quando eu saía pros
encontros lá fora, ele dizia: “Sotero
tu tem cuidado com isso aí porque o povo matava os índios e vocês tão se
declarando os índios, aí eles vão matar. Vocês são índios mas fiquem calados.”
Mas ser uma coisa e ficar calado, né... Aí eu fui e pensei: o museu são
histórias, aí fui arrumando as primeiras pecinhas. Pra mim o museu, são
histórias, é só coisa feia, mas é uma coisa da cultura da gente. Eu comecei com
estas peças, que era o que a gente trabalhava, o machado, a foice. Aí fui vendo
que a caça é uma cultura. O que a gente faz de artesanato também (IN:
GOMES & VIEIRA NETO, 2009, p. 91).( relato de cacique Sotero).
núcleo educativo do museu indígena kanindé. "oficina de inventario participativo".
Atualmente,
mantemos um numeroso e diversificado acervo no MK, constituído de documentos,
livros e objetos, que foram sendo coletados durante os vários anos de nossa
mobilização, através de pesquisas em arquivos de vários municípios e instituições
e doações de familiares da aldeia, caçadores e agricultores, que encontravam
coisas em seus trabalhos na roça e traziam peles e partes de animais. O MK
preserva objetos importantes para nossa memória, que contam um pouco da
história do nosso povo, a partir do nosso próprio ponto de vista.
Até
2009, não tínhamos parceria alguma nas atividades e ações do MK. O espaço veio
funcionando, à nossa maneira, como lugar de preservação de memórias e objetos,
no qual realizavam-se pesquisas escolares e onde recebíamos pessoas da
comunidade e de fora, que queriam conhecer um pouco de nossa história. Apenas
depois, fomos descobrindo que, para tudo o que já fazíamos em relação à nossos
objetos e memória, haviam nomes: salvaguarda, comunicação, musealização etc.
O Museu dos Kanindé, como o primeiro museu
indígena organizado no Ceará e um dos primeiros do Brasil (apesar do
desconhecimento, principalmente fora do eixo norte-sul-sudeste), bem antes
desse processo contemporâneo, mereceu uma atenção especial, por tratar-se do
povo com o mais adiantado processo de musealização: já possuíamos um acervo
diversificado, preservado num espaço organizado, sendo pesquisado pela
comunidade e disposto a um amplo público, através de uma exposição permanente.
Com
os trabalhos realizados quando o historiador Alexandre Gomes (DAM-UFPE) esteve
residindo na nossa aldeia Fernandes (entre abril e agosto de 2011), iniciamos
uma série de atividades voltadas para a formação para a ação e gestão
museológica. Iniciou-se a capacitação do núcleo gestor e educativo, com os
cursos “História Indígena” (para professores) e “Inventário Participativo do
MK” (para estudantes). Foi feita, com um grupo de jovens estudantes, a
higienização, identificação, registro e catalogação do acervo de objetos do MK.
Contabilizamos 430 peças. Elaborou-se um Esquema Classificatório para o acervo,
dividido em três grandes coleções: 1. Bibliográfica (livros, publicações,
revistas, catálogos e congêneres); 2. Arquivística (documentos de variados tipos,
manuscritos, impressos e hemerográficos); 3. Objetos (peças não-manuscritas ou
impressas). Foram definidas, para a coleção de objetos, as seguintes categorias
e sub-categorias:
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